por Francisco Manuel de C. C. Ferreira - parceiro Wish
A rotina escolar é conhecida de todos nós: aulas de diversas matérias se sucedem ao longo do dia em salas onde alunos são agrupados de acordo com a sua faixa etária.
Em cada sala, um/a professor/a conduz o trabalho de ensinar os conhecimentos de sua disciplina a estudantes que devem seguir atentamente (e, de preferência, silenciosamente) as explicações que ele/a dá.
Embora a descrição acima seja caricata, e embora devamos reconhecer diferenças nas rotinas de diferentes instituições, há três aspectos que são estruturantes da concepção da escola atual:
- o ensino acontece quase que inteiramente em um prédio projetado especialmente para a tarefa educativa;
- o currículo está essencialmente direcionado à preparação dos estudantes para lidar com as etapas seguintes da escolarização (orientação propedêutica);
- a escola assume para si exclusivamente a tarefa de ensinar.
Estes três aspectos, no seu conjunto, fizeram com que a instituição escolar progressivamente tenha se fechado cada vez mais em torno de si mesma, criando uma lógica própria e se desconectando das práticas sociais.
Ainda que haja esforços no sentido de que a escola reformule a sua orientação propedêutica e passe a ter como objetivo formar estudantes capazes de lidar com as questões que se apresentam na vida em sociedade, exercendo assim uma cidadania ativa e contribuindo para o fortalecimento do senso de coletividade e do bem comum, dificilmente ela conseguirá fazer isso se não repensar os seus dois outros elementos estruturantes.
Para isso, precisamos rever e ampliar o que entendemos por ambiente de ensino e aprendizagem e articularmo-nos com uma série de outros agentes e espaços educadores.
A pandemia trouxe pistas de como isto pode ser feito: para darmos conta dos processos de ensinar e aprender em um cenário de distanciamento e isolamento social, fizemos uso de mídias e plataformas digitais para transformar a casa dos alunos em escola.
Conectamo-nos com pessoas em diferentes espaços, culturas e funções, desenvolvendo projetos de forma colaborativa. Agora, com o retorno ao universo presencial, devemos agregar outras possibilidades de estudo e interação na sociedade em geral, contemplando profissionais, cidadãos e organizações.
“A valorização do espaço público da educação é fundamental para inscrever toda a sociedade no esforço de educar, como se defende, por exemplo, no movimento das “cidades educadoras”. É impossível prolongar uma concepção fechada da escola. Este é outro ponto central da metamorfose da escola.” (Nóvoa, 2022, p. 16)
O foco do trabalho escolar deve estar no estudo das questões que a sociedade precisa enfrentar e no ensinar a pensar.
Os tempos e os espaços são aqueles necessários para desenvolver esse trabalho por meio de uma variedade de abordagens didático-pedagógicas que valorizem a participação ativa dos estudantes e as demandas de diferenciação nos percursos formativos.
A escola precisa abrir-se e criar uma rede de ambientes e pessoas que possam contribuir para esse foco. Aos professores, cabe a tarefa central de atuar como planejadores, organizadores e mediadores do processo educativo, fazendo a ponte e compartilhando essa tarefa com vários outros agentes e instituições.
Nóvoa, António. Escolas e professores: proteger, transformar, valorizar. Colaboração Yara Alvim. Salvador: SEC/IAT, 2022

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