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Mas o que aprender a tocar numa bateria tem a ver com isso?

Atualizado: 21 de mar. de 2023

Alerta spoiler: Esse texto é muito mais sobre aprender do que sobre tocar numa bateria.


Há anos eu colocava na minha lista de desejos de ano novo "tocar numa bateria".


Eu sempre amei aquela energia incrível do som produzido por muitas pessoas que nem necessariamente se conhecem mas conseguem se sintonizar num ritmo.


A alegria, o gingado, o efeito no corpo que aquilo tudo proporcionava sempre me seduziram.


Ano passado, logo depois do carnaval, recebi um email com essa oferta de uma oficina.


Você não precisava saber nada sobre instrumento algum. Ia lá, testava os instrumentos pra ver com o que se encaixava e começava os ensaios.


Chamei uma amiga que topou a empreitada e lá fomos nós.


O começo


Primeiro dia, apresentação das pessoas, da dinâmica, dos instrumentos. Clima leve, descontraído. Pessoas animadas e muita excitação.


De instrumento em instrumento acabei ficando no agogô. Instrumento até então desconhecido pra mim mas que me encantou.


Ele era fácil de carregar, você usava uma baqueta (que eu achava que me ajudaria lindamente a lidar com dias de estresse!) e ainda tinha umas dancinhas incríveis que ajudavam os leigos (EU) a marcar o ritmo e não fazer tanta bobagem.


Historicamente sou a pessoa que tende a se meter em coisas em que acha que vai se dar bem. "Levo jeito pra isso", "Já pratiquei antes"...


Quando começa a ficar mais difícil ou me sinto exposta, parto pra outra.


Outra característica é que, na ânsia de "fazer certo" não aproveito a jornada. Fico tensa, ansiosa e acabo transformando o que era pra ser divertido em mais uma obrigação.


Sabendo disso, me coloquei esse desafio: vou aprender essa coisa que eu nem sabia que existia, num campo onde tenho zero expertise - a música - e ainda precisa ser leve (pararia não se achasse difícil mas se percebesse que estava estressando).


E assim foi… comecei sem nenhuma expectativa a não ser a de me divertir. Percebi a diferença que isso causou. Em todos os momentos eu estava me divertindo: dançando, rindo, conhecendo músicas e ritmos novos, praticando "air agogô" em casa…


Mas o que isso tudo tem a ver com um blog que fala de educação?


Processos de aprendizagem são similares não importa o campo. Se estamos em estado de estresse, o cérebro se fecha, o corpo se contrai. O estresse é um bloqueio ao aprendizado.


Quando uma criança está o tempo todo sob a pressão de ser a melhor, de performar, de agradar um adulto, ela vai para um de dois caminhos:


- ou se convencer de que não tem inteligência (ou talento, ou habilidades…) e portanto que qualquer esforço será em vão;


- ou que tem e, a partir daí, precisará provar isso o tempo todo, vinculando seu valor como pessoa à manutenção desse status.


Eu fui essa pessoa número dois. Ao achar que meu valor como pessoa estava vinculado à minha inteligência ou aptidão eu deixei de aprender algumas coisas na vida (abandonei a ginástica artística no primeiro tombo, parei as aulas de tênis porque errava a bolinha ao sacar…).


Também tornei o aprendizado de outras coisas um peso de toneladas nas costas (se tudo na escola não estivesse perfeito era porque eu não tinha feito tudo que podia, se alguém criticasse um texto meu era porque tinha descoberto o quanto eu não sabia…).


Em um texto anterior no nosso blog falei sobre o isomorfismo: precisar passar por uma experiência para poder oferecê-la de forma autêntica depois.


É muito comum ouvirmos no meio da educação que o erro é um aprendizado muito importante, que ele precisa ser valorizado em vez de julgado.


Quantas vezes nós como adultos nos colocamos vulneráveis ao erro? Como nos sentimos quando erramos? Ou "pior", quando alguém percebe que erramos?


Essas sensações que tentamos muitas vezes esconder são captadas pelas crianças, mesmo que não queiramos. E aí acabamos falando uma coisa ("não tenha medo de errar") e agindo de um jeito diferente ("não quero que percebam que eu não sei").


Este ano eu me coloquei no lugar do não-saber porque queria justamente "walk the talk".


Nesse carnaval vou tocar no grupo do avançado do agogô. Essa conquista não veio sem esforço: ensaios em casa (pobres vizinhos!), bangalafumenga (meu bloco querido) até a meia noite, truques esquisitos para decorar as levadas… mas foi - por mais contraditório que possa soar - um esforço leve, prazeroso e divertido.


E para além de aprender o agogô, eu aprendi que pode haver aprendizado, e erro, e mico público, e retrocessos, e superações - tudo junto e misturado - nesse campo e em tantos outros da minha vida.


Educação é minha missão de vida, meu algoz, minha paixão e uma das minhas principais fontes de aprendizado. Vivenciar esse desafio e me colocar novamente nesse lugar de aprendiz tem sido uma experiência e tanto. E por isso eu agradeço.


"Imagine que seu cérebro está formando novas conexões à medida que você enfrenta os desafios e aprende". (Carol Dweck)


Andressa Lutiano

Especialista em Inovação e Educação Transformadora

Sócia-fundadora Wish School

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