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O que é conteúdo?

Em tempos de crianças em casa e pais observando muuuito mais de perto tudo o que é proposto para elas em termos de aprendizado, surge uma pergunta que é importante não só para esse momento mas para a vida escolar futura.


O que é conteúdo?


Tenho ouvido relatos e mais relatos de professores e coordenadoras tendo muitos questionamentos de famílias que acham que as crianças não estão tendo conteúdo suficiente.


O que é conteúdo para uma criança de 2 anos, de 5, de 14?


No meio disso tudo, me deparei com essa evidência de aprendizagem (de antes do isolamento) de uma criança de 2 anos:


Fazendo colagens Uma das propostas de cantos foi fazer colagem com folhas secas e tipos diferentes de temperos. Sandrinha* já tinha se despedido da mamãe e estava pronta para começar seu dia escolhendo uma atividade para fazer e a mesa de colagem chamou sua atenção. Ela observou os amigos do KJ antes de começar. Percebeu como eles colocavam a cola no papel e como faziam as folhas grudarem por completo.

Quando se sentiu preparada, aproximou-se da mesa e pegou um pincel. Para passar a cola no papel, percebeu que poderia segurá-lo com a outra mão. Escolheu cuidadosamente o que queria colar, pegou um pouquinho e trouxe para perto de seu papel, foi colando as folhinhas uma por uma, com muito cuidado. Quando achou que seu trabalho estava bom, devolveu as folhas que não utilizou para o lugar, sorriu e disse para T. Nana: “Vou fazer mais um!”.

Ao terminar de ler, me peguei pensando: nunca é só uma colagem! Ela observou seu contexto. Ela fez uma escolha. Ela analisou pares mais experientes executando a ação. Ela se colocou vulnerável para testar a ação. Ela se arriscou. Ela escolheu folhas, passou cola, colou as folhas, definiu a estética do seu trabalho (não estava copiando de nenhum modelo pronto) e finalizou seu projeto. Satisfeita, quis repetir tudo.


Outra criança, de uns 7 anos, estava com dificuldades para entregar as propostas de casa porque os pais, bastante atarefados com home office, crianças, casa (heróis!), não estavam conseguindo auxiliá-lo com a tecnologia. Nós, sabendo que ele tinha plenas condições de se organizar sozinho, pedimos aos pais que o ajudassem somente com um primeiro hangout e, a partir daí, depois que explicássemos o funcionamento pra ele, sabíamos que ele daria conta. Esse processo todo não era o "conteúdo" da semana. Mas quanto "conteúdo" tem aí! Ele saber que consegue realizar as tarefas autonomamente, perceber que seus professores e seus pais confiam nele pra isso, se organizar com seu tempo, espaço de estudo e as propostas que precisa realizar.


Ainda uma outra aluna, ali pelos seus 12 anos, demonstrava alguma dificuldade nas tarefas mas não se colocava para perguntar. Deixava passar ou pedia que alguém perguntasse por ela. Que desafios e aprendizagem para a vida não estão colocados na difícil tarefa de se colocar vulnerável frente ao grupo e/ou ao professor para dizer que não entendeu. Eu até hoje sofro com isso...


O pai não é treinado para enxergar isso tudo, essa riqueza nos detalhes, mas nós somos. Neste momento, não escolhido ou desejado por nenhum de nós, mas por algum motivo imposto a nós assim tão bruscamente, me parece interessante olhar para essa questão como uma janela de oportunidade. Num mundo que se provou imprevisível o que as crianças precisam aprender? O que ainda nos prende a algumas crenças já tão ultrapassadas? O que é importante que talvez não estejamos enxergando?


Ontem no almoço eu e minha filha falávamos sobre futuros alternativos possíveis. Para isso ser possível ela precisou ser capaz de observar seu contexto, fazer escolhas, analisar o que pares mais experientes estão fazendo, se colocar vulnerável para testar a ação... Nunca é só uma colagem!




Distant but together <3


WISHteam



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