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Saiba tudo sobre a educação holística e porque ela responde às demandas do mundo atual

A educação holística vai além dos aspectos racionais do ensino


Você já se perguntou se a escola tradicional abrange todos os aspectos que compõem um indivíduo?

Pois saiba que existe uma abordagem que leva em conta mais do que o desenvolvimento racional do estudante, mas também fatores emocionais, sociais e espirituais. Ela é chamada de educação holística.

Se você se interessou, continue a leitura. No texto a seguir, descubra o que é, qual é a metodologia utilizada e outras informações importantes sobre o tema.


O que é educação holística?


Mapa da educação holística


O que precisa uma pessoa para se desenvolver plenamente, na melhor das suas possibilidades? Uma pessoa não é só o conhecimento que ela possui. Ela é as relações que estabelece entre esse conhecimento e o mundo; ela é as pessoas que estão à sua volta - o impacto que causa nelas e o quanto é transformada por elas; ela é sentimentos, sensações, emoções. Ela é complexa e completa.

A abordagem holística (”holon” = inteiro, integral) acredita que todos os aspectos da experiência humana devem ser considerados, não só o intelecto racional (como na educação tradicional), mas também os aspectos físicos, emocionais, sociais, culturais, criativos, intuitivos e espirituais da natureza de cada ser humano.


Por que a educação holística é importante?

Acreditamos que os valores e práticas dominantes da nossa sociedade - a preponderância da competitividade sobre a cooperação, do consumo sobre o uso sustentável dos recursos, da burocracia sobre uma interação autenticamente humana, têm sido destrutivos para a saúde do ecossistema e também para o bom desenvolvimento humano.

As escolas, com seu interesse por obediência, disciplina e produtividade, vem colaborando para a manutenção desses valores e práticas que adoecem a sociedade. A educação holística acredita numa escola que facilita o aprendizado significativo e promove o desenvolvimento global de todos os envolvidos, tornando-os conscientes do importante lugar que ocupam como agentes transformadores dessa sociedade.


Como funciona a educação holística?

Educar na abordagem holística significa aceitar as diferenças e fomentar em cada indivíduo um sentido de tolerância, de respeito e de consideração pela diversidade humana, compreendendo que cada ser humano é inerentemente criativo e tem necessidades e habilidades físicas, emocionais, sociais, intelectuais e espirituais únicas.

Olhando para o mapa que desenvolvemos, vemos que há 5 eixos que compõem a educação holística desenvolvida na Wish. Vejamos o que cada um deles compreende.


Espírito

8h30 da manhã, o grupo de Year 3 e 4 está do lado de fora da escola fazendo uma roda de saudação ao sol. Na sequência, posturas de yoga e uma respiração guiada para promover relaxamento e fazer com que o dia comece com mais qualidade.

Ao falarmos em espírito na Wish, pensamos imediatamente no autoconhecimento. É esse saber de si mesmo, de sua essência, que vai permitir que essa criança se coloque no mundo com confiança, que atue de maneira crítica, que se mostre plena em sua potência, em sua contribuição única para o planeta.

Estivemos tão atarefados avaliando o mensurável que negamos aqueles aspectos do desenvolvimento humano que são incomensuravelmente mais importantes.

Em escolas de sucesso e inovadoras em todo o mundo, as provas e as notas padronizadas foram substituídas por avaliações pessoais, que fazem com que as crianças consigam conduzir-se internamente, tomando consciência de seu próprio processo de aprendizagem. O resultado natural dessa prática é o desenvolvimento do autoconhecimento, da autodisciplina e do autêntico entusiasmo pelo aprendizado.

Sem o conhecimento de si mesmo todo o conhecimento restante é superficial e sem propósito. E para promover o "conhece-te a ti mesmo" nas crianças, os educadores precisam vivenciar esse processo em suas vidas. Nosso formato de formação de professores inclui o cultivo do próprio interior dos professores e seu despertar criativo.

A experiência e o desenvolvimento espiritual manifestam uma profunda conexão consigo mesmo e com os demais, um sentido de significado e de propósito na vida diária, uma experiência de globalidade e de interdependência da vida, um alívio para a atividade frenética, para a pressão e a superestimulação da vida contemporânea, e um profundo respeito com os mistérios da vida.




Mente


Ao passar pelo corredor vemos a turma de Year 1 e 2 concentrada, buscando em vários mapas disponíveis os países sobre os quais estão estudando.

Os conhecimentos "canônicos", reconhecidamente escolares, não perdem seu lugar, mas muda radicalmente a forma como são abordados. Memorização de dados, repetição de propostas sem sentido, respostas automáticas e prontas já não tem mais lugar na maneira que encaramos a mente dentro da educação holística.

Não há mais desculpas para impor tarefas de aprendizado, métodos e materiais em massa quando sabemos que qualquer grupo de alunos precisará aprender de diferentes formas, com diferentes estratégias e atividades.

As experiências educativas devem nutrir de maneira natural e saudável o crescimento por meio de experiência, e não apresentar um “currículo” limitado, fragmentado e pré-digerido como caminho único para o conhecimento e a sabedoria.

Um dos objetivos da educação holística é abrir as mentes e isso acontece por meio de estudos interdisciplinares, experiências que estimulam a compreensão, a reflexão, o pensamento crítico e a resposta criativa.

Navegar num mar de incertezas, abrir espaço para a não previsibilidade e não linearidade, fomentar a criação são atributos essenciais para a mente que deseja operar na complexidade do mundo em que vivemos.



Corpo


Um grupo de alunos se enfileira em cima do muro. O que estão fazendo? A cena incomum retrata uma parte importante do projeto do grupo de Year 5 e 6. Ao estudar o Grafite os alunos começaram a olhar para a cidade e descobrir outras formas de intervenção e ocupação urbana, dentre elas, o parkour. Animados com a ideia, conseguiram uma oficina para a prática do parkour na escola.

InCORPOrar um conhecimento. Perceber na pele, no movimento, os aprendizados que estão ocorrendo, ter as sensações ligadas à aproximação dos diversos saberes. Por anos, o corpo ficou afastado da educação. Como diz Ken Robinson no seu famoso TED: "Conforme as crianças crescem vamos educando-as, cada vez mais, do peito pra cima, até que focamos somente na cabeça e levemente para um lado (...); professores normalmente moram em suas cabeças. (...) Eles olham para seus corpos como um "meio" de transportar suas cabeças, uma maneira de levar suas cabeças às reuniões."

Na Wish, o corpo é um dos eixos que compõem os projetos e é tão importante quanto qualquer outro. Ele está presente nas aulas de educação física, nas vivências artísticas, no dia-a-dia que permite ir, vir, explorar, sentar, deitar, correr. O corpo é vivenciado, para além do movimento, como lugar de sustentação, como base para que o restante da vida permaneça em equilíbrio.

Como podemos Ser por inteiro, sem nos apropriarmos do nosso corpo? Como podemos Ser, em toda nossa potência, sem termos uma identidade corporal? E o que isso significa? Significa cuidar, alimentar e prover seu corpo com aquilo que ele necessita. Desenvolver sua inteligência e seus recursos corporais em toda a sua complexidade. Só assim ele pode florescer, cheio de vitalidade, personalidade e identidade. Essa identidade acontece quando a nossa criatividade e aquilo que somos se manifestam em nosso corpo de uma forma potente.




Relações



E pelos corredores da escola… alguém ainda precisa de ajuda com seus sapatos. Não tem problema. Rodrigo diz para Arthur: "Arthur, eu vou fazer neste pé e você faz igual no outro".

Ao se conscientizarem que são parte de uma comunidade global ampla; ao entenderem que suas ações, formas de pensar e de tomar decisões impactam suas vidas e as vidas do demais em uma escala inimaginável, as crianças começam a desenvolver um senso de corresponsabilidade e interdependência que os ajudará a agir de maneira mais crítica, responsável e empática, promovendo, assim, um mundo de bem estar, solidariedade e justiça.

Eles aprendem que "ter voz" significa não apenas ser responsável por suas próprias ações e escolhas, mas também ter o dever de falar por aqueles que não podem falar por si próprios.

As crianças entendem que "com grandes poderes vem grandes responsabilidades" e começam a se perceber com um papel essencial na maneira como a vida, esse organismo vivo e complexo, se desenrola.


Mundo


Acreditamos que cada um de nós, percebendo ou não, é um cidadão global. A experiência humana é muito mais ampla do que os valores ou as formas de pensamento de qualquer cultura. Na comunidade global emergente estamos sendo colocados em contato com diversas culturas e visões de mundo como nunca antes na história. Pensamos que este é o momento em que a educação deve favorecer-se da enorme diversidade de experiência humana e dos potenciais ainda não considerados dos seres humanos.

A educação para o mundo está baseada em uma visão ecológica, que enfatiza a conectividade e a interdependência da natureza e da vida humana e sua cultura. Essa educação facilita a tomada de consciência do papel de cada indivíduo no ecossistema complexo que inclui o ser humano e os outros seres da Terra e do Universo.

Assim, é necessário que haja oportunidades significativas para a escolha real em todos os estágios do processo de aprendizado. A educação genuína somente pode ocorrer em um clima de liberdade. A liberdade de pesquisa, de expressão e de crescimento pessoal é plenamente exigida.

Na Wish, as crianças podem realizar escolhas autênticas sobre sua aprendizagem. Elas têm voz significativa na determinação do currículo e dos procedimentos disciplinares, de acordo com sua habilidade para assumir tal responsabilidade.

Com essa liberdade, um mundo de possibilidades se abre e o currículo prescrito deixa de ser o caminho único rumo ao conhecimento. Estudar sobre o grafite e as pichações, aprender a fazer uma animação, construir um barco e até mesmo pesquisar sobre os unicórnios. As possibilidades são infinitas. As perguntas vão até onde a curiosidade das crianças deixar.


Como a educação holística se diferencia da educação tradicional?


O espaço

Na escola tradicional, espaços fixos promovem a segregação, o controle e a ordem. Carteiras enfileiradas e objetos “infantilizados” indicam uma certa visão que se tem sobre a criança. Nós achamos que as crianças podem mais.

O espaço que acolhe nossas experiências cotidianas foi pensado para refletir os ideais do nosso projeto pedagógico. Ele é uma metáfora para nossa premissa de que cada criança tem seu próprio percurso de aprendizagem.

A exploração é personalizada e reflete as escolhas de cada pessoa que habita esse espaço. Cada um que anda pela escola constrói um caminho único, de acordo com seus interesses e necessidades. Portanto, toda a concepção do espaço foi pensada na lógica de que é o espaço que deve se adaptar às pessoas e não as pessoas que devem se adaptar ao espaço.

Nosso espaço foi pensado para ser um promotor de liberdade, de oportunidades e de encontros. Não há corredores. As salas de aulas possuem transparências para que haja contínuo contato do interior com o exterior ou são móveis, se adequando a diferentes propostas e objetivos. Muitos espaços são de uso comum e as diferentes atividades e tutorias podem ocorrer nos mais diversos ambientes.

A integração com a natureza, a amplitude da visão, uma planta mais orgânica favorecem as múltiplas linguagens, a curiosidade e a criatividade. A liberdade que as crianças têm de ir e vir e de explorar todo o espaço promove a autonomia e o imprevisto.



Os diversos caminhos possíveis no tangível da estrutura física comunicam a diversidade de percursos também promovida e facilitada no intangível da trajetória de cada criança.





O tempo


Assim como transgredimos os limites do espaço conhecido como escolar, encaramos o tempo por uma nova perspectiva. Vivenciamos uma rotina que entende que o tempo cronológico tem seu lugar mas que existe o outro tempo - Kairós, o tempo do desfrute, da qualidade, da experiência - que também deve ser considerado. Na tabela abaixo, é possível visualizar esse Tempo Wish.



CHEGADA

Quando as crianças chegam na escola, elas têm tempo livre para interagir e brincar. Os pais são convidados a compartilhar esses momentos com as crianças. Adultos e crianças aproveitam as experiências que ali vivenciam para se aproximar e se conectar. É um tempo de desfrute que favorece o vínculo.

RODAS

As crianças se organizam em roda pela manhã para planejar o seu dia. Nesse momento também são tomadas decisões que impactam a convivência e a rotina do grupo.

Ao participarem das rodas, as crianças atuam como cidadãs de direito. Mais do que falarem sobre democracia, cidadania e direitos, as crianças praticam democracia, cidadania e direitos; eles vivenciam essas experiências no dia-a-dia, com assuntos que os afetam e os interessam:

  • O que podemos comer no lanche?

  • Como evitar "trombadas" no playground?

  • Qual será o tema do nosso próximo projeto?

  • Quais são as regras para uso de eletrônicos na sala?

Participando das decisões, as crianças entendem que tem voz e que ela merece e deve ser ouvida e respeitada!


Após uma discussão durante a brincadeira de policia e ladrão, eles pararam a brincadeira para conversar sobre as regras.




PAP (PLANO DE APRENDIZAGEM PESSOAL)

Entendendo que cada criança percorre sua própria trilha pois tem diferentes estilos de aprendizagem, diferentes potências e habilidades diversas, proporcionamos tempo e espaço para que essas potências possam desabrochar.

Na roda da manhã as crianças constroem, junto com seus professores, seus planos de aprendizagem. Nesse plano elas organizam todo o trabalho a ser realizado naquele dia, além de quando, onde e com quem irão trabalhar para tal realização.

E quem define o que será feito?

Os professores podem solicitar espaços na agenda e as crianças também. Juntos eles vão completando o plano com tudo que for importante.

Como são organizados os dias?

Algumas coisas tem horários fixos: lanche, almoço, aulas com especialistas. O restante pode variar entre:

  • WHOLE GROUP: momentos em que o trabalho acontece com o grupo todo junto.

  • SMALL GROUP: momentos em que o trabalho acontece em subgrupos. Os grupos menores são organizados por competência, interesse, participação em projeto, trabalho/tarefa em comum, etc

  • INDIVIDUAL WORK: momentos em que a professora solicita que a criança fique sozinha com ela para uma intervenção específica, seja ela de carácter cognitivo, comportamental, ou qualquer outro.

A ideia é que, ao final do dia, as crianças retomem seus planos e reflitam sobre o que aconteceu: se cumpriram o que se comprometeram a fazer, se tiveram dificuldades, se houve algo que se destacou na semana, o que foi mais fácil, etc.

O objetivo dos PAPs é garantir a flexibilidade das propostas, o equilíbrio entre as duas línguas (português e inglês) e a diversidade entre propostas direcionadas, investigação pessoal e trabalho com projetos.





EXPERIÊNCIAS DIVERSIFICADAS (AGRUPAMENTOS E LINGUAGENS)

Diariamente as crianças vivenciam experiências enriquecedoras e variadas. Para cada proposta são compostos diferentes agrupamentos e diferentes critérios são utilizados na escolha desses agrupamentos dependendo do objetivo: o nível de desenvolvimento numa determinada área, o interesse, a competência para certas tarefas, a idade e até o nível de autonomia.

Entendemos que quanto mais linguagens forem apresentadas e disponibilizadas às crianças, mais elas terão ferramentas para enxergar o mundo de maneiras diferentes.

Queremos que elas entendam que um ponto de vista nada mais é que a vista a partir de um ponto (Mário Sérgio Cortella) e que há muitas formas de interpretar uma mesma coisa. Sendo assim, possibilitamos que se expressem através das mais diversas linguagens, como dança, música, matemática, pintura, escultura, vídeos, drama, etc.


A partir do tema “água”, as crianças desenvolveram um site - cuidaram do layout, imagens e texto - e compuseram uma música - cuidaram da melodia e da letra (em inglês, para que atingisse um número maior de pessoas).




Durante uma proposta de desenho com cartolinas e giz de cera nas cores preta e branca, Henrique optou por desenhar com giz preto na cartolina branca. Assim permaneceu durante alguns minutos, então a teacher propôs a ele que desenhasse com giz branco. O pequeno pegou o giz e experimentou na cartolina branca. Ao perceber que não aparecia nenhuma marca disse “não funciona”. Então, sem que a teacher falasse nada, Henrique resolve riscar a cartolina preta. Ao ver que o giz fazia marcas no papel disse: “Agora funciona”.



BRINCADEIRAS LIVRES (INICIADAS PELAS CRIANÇAS)

Ao iniciar a brincadeira, as crianças demonstram tudo aquilo que as interessa no momento. Elas ficam livres para expressar o que as deixa curiosas, o que as angustia e o que as surpreende.

Esses preciosos momentos nos permitem observar como compreendem o mundo. A brincadeira livre, não estruturada, permite às crianças a possibilidade de descobrir seus próprios interesses e entrar em contato com sua criatividade.

"O direito da criança à felicidade deveria ser a prioridade, entendendo que o futuro é por demais incerto para justificar um entristecimento da infância" (Helena Singer)

Um importante indicador de qualidade do trabalho realizado na Wish é a vontade das crianças de voltarem à escola no dia seguinte. Dizia John Dewey que educação não é preparação para a vida, mas é a própria vida. Sendo assim, entendemos que o dia-a-dia importa e impacta muito nossas escolhas e ações. Em nome de uma suposta preparação para o futuro, as crianças vêm sendo privadas de vida.

O brincar que é, comprovadamente, tão importante para o desenvolvimento e amadurecimento das crianças e de suas habilidades para a vida adulta, é deixado de lado em favor de um dia inteiro de atividades desinteressantes, sem significado e 100% direcionadas por um adulto.




Dandara organiza sua própria brincadeira e dá novo sentido aos objetos do cotidiano.


FREE INVESTIGATION

O Free Investigation é um momento que a criança coloca em sua agenda para pesquisar e se aprofundar em algum tema que tenha provocado interesse. Esses temas podem ser os mais variados, de revolução francesa a pokemon go, tudo vale. É a curiosidade que move o conhecimento e é assim que as ferramentas de pesquisa são aprimoradas e a paixão pelo saber permanece.

A criança pode se aventurar em pesquisas, leituras, conversas com adultos, com outras crianças, com especialistas, pode elaborar hipóteses, desenvolver protótipos, preparar apresentações... as possibilidades são intermináveis. Uma vez aguçada a curiosidade e escolhido um tema pela criança, a professora a orienta quanto ao levantamento das perguntas, aos possíveis caminhos a seguir, às ferramentas de pesquisa, etc.



Rodrigo, Thomas e Pedro decidiram que queriam construir um barco. Thomas e Rodrigo optaram por barcos à vela e Pedro por uma balsa.

As crianças usaram tocos de madeira, cola quente, palitos de madeira e tecido na construção. Porém, ao testarem os barcos na água a primeira vez, perceberam que a água derretia a cola e então o barco todo se desmontava. A solução foi, ao invés de somente colar as partes, amarrá-las com barbante também. E foi isso que fizeram.

Para que o barco flutuasse, os meninos colocaram garrafas PET em suas bases e para equilibrar os lados do barco, eles foram fazendo experimentações com diferentes quantidades de água nas garrafas.

Os meninos apresentaram os barcos aos colegas, explicaram todo o processo de produção, os materiais utilizados e as dificuldades encontradas pelo caminho. Os barcos de todos ficaram incríveis e cada um deu um nome para sua embarcação.



Salão de beleza montado por um grupo de alunos em seu tempo livre. Outros alunos passaram a frequentar, chegando a gerar filas de espera.




Tempo de livre brincar


Alunos preparam um jantar para seus pais. Ideia inteiramente deles.



Momento de relaxamento


Qual é a metodologia da educação holística?

Ao pensar a prática da educação holística, trazemos o conceito de dispositivos para falar das formas como os conceitos são desenvolvidos e realizados com os estudantes. O importante no conceito de dispositivos é estar constantemente refletindo sobre os "porquês" por trás das escolhas.

Do ponto de vista da educação holística, as formas dos dispositivos podem mudar contanto que os valores por trás sejam mantidos. Abaixo contaremos um pouco sobre nossos dispositivos.

PROJETOS NA WISH

Na Wish, a singularidade do indivíduo é levada a sério. Entendemos que cada criança tem uma maneira de aprender e, por isso, todo o desenvolvimento do conhecimento é permeado por projetos.



1. Perguntas e provocações

Para aguçar a curiosidade e o interesse das crianças.

Com base na observação das crianças - sobre o que falam, do que brincam, o que mais chama sua atenção - são pensadas perguntas que façam aprofundar o olhar das crianças, que suscitem ainda mais perguntas e que provoquem o estranhamento de elementos que são familiares.

Enxergamos os espaços que compõem a nossa escola como possibilitadores de aprendizagem. Através da ação e do contato frequente com os mais diversos tipos de materiais, estruturados e não estruturados, oferecemos provocações: situações de exploração, pesquisa, curiosidade, organização, escolhas, autonomia. Ativamos processos construtivos. Entendemos esses espaços ambientados como "provocadores de conhecimento".




Solucionando problemas com autonomia - Joaquim e Pedro querem pular a corda que foi colocada no parque. Mas só estão em dois. Então, Joaquim tem a ideia de amarrar a ponta da corda em uma outra corda e assim conseguem brincar: um balança e o outro pula.

Em meio a tanta informação, escolher o que usar e COMO usar bem.


2. Enriquecimento

Repertório de professores, alunos, da equipe Wish, de pais. Foco nos eixos do mapa Wish.

Uma vez definido o tema, é hora de ampliá-lo e aprofundá-lo. A busca agora é por materiais, ideias, propostas culturais, saídas pedagógicas, entre outras coisas que se relacionem com o projeto. Nessa hora ajudam muito o repertório dos profissionais envolvidos, os especialistas de área e mestres, a comunidade escolar (outros profissionais, famílias dos alunos, pessoas e empresas do bairro).

Sem um tempo de duração definido, o projeto dura quanto o interesse das crianças permitir. Para isso, os tutores devem estar sempre buscando como trazer mais informações sobre o que está sendo pesquisado. É nesta etapa que o projeto toma corpo e é desenvolvido, buscando atingir o seu propósito.

3. Currículo

Onde o tema do projeto e as demandas curriculares se encontram.

Além dos conhecimentos básicos - definidos pelos parâmetros e referenciais nacionais - a que chamamos de currículo objetivo, temos também o olhar para o interesse de cada grupo e de cada criança, formando o que chamamos de currículo subjetivo. Com o currículo subjetivo, a criança pode traçar suas próprias metas e se aprofundar num tema até onde sua curiosidade permitir.

No currículo tradicional instrucionista, o foco é dar conta de todo o conteúdo que deve ser abordado, independente das crianças que ali estão, sem levar em conta a forma desta abordagem, ou a influência que estes conteúdos terão na formação do indivíduo ou ainda se serão necessários e úteis na vida pessoal e profissional da pessoa. Ao olhar cada criança como ser único, invertemos essa prioridade. Um conteúdo só faz sentido se se relacionar com aquela criança, aquele contexto, aquela necessidade, aquela comunidade.

4. Propósito do projeto

O projeto pode ser de 3 tipos:

1. Para responder perguntas (projeto de pesquisa)

Perguntas são feitas sobre o tema em questão e todo o trabalho de pesquisa será no sentido de responder a essas perguntas. O projeto estará concluído quando o grupo entender que suas perguntas foram respondidas.

2. Para solucionar um problema

Uma demanda real surge. Um problema da comunidade ou mesmo de dentro da escola. Os alunos enxergam a necessidade de acabar com o problema do lixo na cidade ou de melhorar a qualidade do lanche na escola. Junto com os tutores, os alunos irão elencar quais os conhecimentos e habilidades necessários para levar a ideia adiante e encontrar uma solução para o problema.

3. Para criar um produto

As crianças querem compor uma música, ou desenvolver um aparelho que avise quando alguém chegar na porta da escola. Não importa o nível de complexidade. Importam as competências e conhecimentos necessários para a criação/invenção do produto - de um banco para o playground a um app.




Após visitarem uma exposição onde viram uma obra do artista Marcius Galan, as crianças (7 e 8 anos) decidiram fazer uma réplica na escola para a Mostra de Artes. O trabalho foi um sucesso e, após sua conclusão, as crianças quiseram chamar o artista para ver o que tinham feito. Sem problemas, mandaram um e-mail e, alguns dias depois, lá estava ele conversando ao vivo com eles!


5. Avaliação

Juntos vamos analisar o que deu certo e o que poderia ser melhorado.

A avaliação acontece durante todo o projeto. É um processo contínuo de observar, analisar e interpretar evidências para poder refletir e agir sobre o que deu certo, o que não deu, o que poderia ser diferente e quais são os próximos passos. Entendemos avaliação como encaminhamento, correção de rota e não constatação.


POR QUE PROJETOS?

Todo conhecimento verdadeiramente significativo tem que ser construído pela própria pessoa a partir da experiência. Nesse sentido, a aprendizagem deve ser um processo em que os indivíduos constroem seus próprios significados. Se entendemos que cada ser é único, é indispensável pensarmos num currículo individualizado, de modo que todas as crianças tenham acesso aos conhecimentos acumulados pela humanidade, mas que possam acessá-los de maneira diferente, de acordo com o interesse de cada um.

Na era do conhecimento, já não faz mais sentido cobrar que as crianças memorizem informações. No momento em que vivemos, o que importa é que eles aprendam como encontrar essas informações, como selecioná-las e, o mais importante, como usá-las de maneira inteligente, criativa e inovadora.

“O que buscamos é uma escola onde os alunos efetivamente se apropriam dos elementos fundamentais da cultura (...) de tal forma que não perdem a alegria ao fazê-lo; pelo contrário, não só conservam a alegria que normalmente têm em relação à vida, como a ampliam pelo acesso aos elementos da cultura e pela tomada de consciência das suas potencialidades para deles se apropriar, dar sentido às coisas e à própria existência, e ainda criar, inovar, fazer coisas novas com estes arte-e-mentefatos culturais.” (VASCONCELLOS, 2009)



O projeto começou com uma pergunta: Por que tudo que é bom faz mal e tudo que faz mal é bom? Por que a pizza é deliciosa e salada não? Por que não posso comer pastel todos os dias, mas preciso dos vegetais? A curiosidade e a discussão poderiam se transformar em um projeto.

As crianças começaram a falar sobre suas preferências e hábitos alimentares. Falavam dos lanches, do macarrão, dos doces e discutiam sobre o sabor das frutas – consumidas por muitos no grupo – e dos vegetais – pouco aceitos por eles.

Após registrarem seus hábitos alimentares e lerem algumas notícias sobre a alimentação dos brasileiros, a primeira pergunta persistiu. Então, assistiram a um vídeo chamado “Muito além do peso”, de Jamie Oliver, e ficaram surpresos com as descobertas.

Descobrir a função dos nutrientes se tornou uma curiosidade fundamental para o projeto. Durante a pesquisa, depararam-se com uma outra pergunta: “Como o corpo processa os nutrientes?”

Em grupos, as crianças elaboraram suas hipóteses sobre o processamento dos nutrientes. Primeiramente, usando papel como suporte e depois construindo modelos para elas.


E a avaliação? Acontece como?


Partindo da concepção de criança como protagonista do seu processo de aprendizagem, não poderíamos deixá-las de fora quando o assunto é avaliação.


Portfolio

Os professores olham para cada criança e avaliam como eles estão se desenvolvendo ao longo do projeto. Eles constroem, junto com cada um, um portfolio individual, cujo objetivo é evidenciar os processos de aprendizagem da criança para os professores, para a própria criança e para as famílias.

As crianças são protagonistas neste processo e constroem o portfolio com o que entendem ser mais relevante.

Autoavaliação

As crianças também têm a oportunidade de olhar para as próprias questões, sejam elas de caráter cognitivo (conteúdos), emocional ou atitudinal (competências/soft skills), e refletir sobre elas. Ao se autoavaliarem, as crianças têm a chance de se conhecer melhor, de perceber como aprendem, onde tem mais dificuldades, onde podem ajudar os outros e onde precisam de ajuda, tornando-se, assim, corresponsáveis pelo seu desenvolvimento.

Tutorias

Cada criança tem um professor referência com quem pode falar sobre suas questões acadêmicas, emocionais, sociais. O objetivo do tutor é ser uma pessoa presente na trajetória dessa criança para apoiá-la, compreendê-la em sua subjetividade e singularidade, ajudá-la a traçar caminhos.

Student-led conference

Uma vez que a educação holística entende que a criança está no centro do seu processo de aprendizagem, a avaliação segue essa mesma premissa. Assim, a student-led conference (encontro com os pais liderado pela criança) acontece como momento chave em que a criança vai contar sobre seu trajeto e demonstrar seu percurso de aprendizagem com todas as dificuldades e superações.


E os educadores? Como desenvolvem seu trabalho nesse contexto holístico?

O conhecimento não pode ser transmitido de uma pessoa a outra. Para ser significativo, o conhecimento deve ser desejado, buscado e cocriado. Na era do conhecimento, memorizar conteúdos já não ajuda a compreender o mundo em sua complexidade.

Nesse contexto de mudança, nós trabalhamos dia após dia para transformar nossa prática. Não preparamos projetos PARA as crianças mas construímos projetos COM as crianças.

Na Wish, os educadores deixaram de "dar aula" e passaram a organizar rotas de aprendizagem em que as crianças são reconhecidas, valorizadas e orientadas nas suas capacidades de escolher, analisar, criticar, comparar, sintetizar, comunicar, produzir, aplicar e partilhar conhecimentos.

Acreditamos que todos os envolvidos no processo - educadores e educandos - são competentes, produtores de cultura, interessados e capazes; a eles é garantida a possibilidade de testar, errar, tentar de novo. Valorizamos a autonomia e o aprender a aprender.

Acreditamos que a teoria não antecede a prática, mas também entendemos que não há prática sem teoria que a fundamente. Por isso, defendemos a possibilidade de uma multirreferencialidade teórica que nos permita olhar para nossa prática, enxergar as reais necessidades dos nossos educandos e encontrar a ferramenta/o dispositivo que vai ajudá-lo a desenvolver seu máximo potencial.


Formação

Acreditamos fortemente na aprendizagem para a vida inteira. Não importa o que tenhamos realizado, nunca paramos de aprender. Nossos professores e equipe de apoio estão em constante desenvolvimento. Fazemos encontros semanais em que nos debruçamos sobre questões que nos angustiam relacionadas ao nosso dia-a-dia com as crianças e seus processos de aprendizagem.

Todos os aspectos que trabalhamos com as crianças são também considerados na formação dos educadores (isomorfismo). Aplicamos o mapa holístico em todas as nossas propostas de formação para a equipe.


Professor Wish



Plano de Possibilidades

Por entendermos que a prática pedagógica é viva e dinâmica, não pensamos em um planejamento semanal engessado e imutável, mas projetamos um plano de possibilidades para a semana visando nortear as propostas, provocações, intervenções e observações que realizaremos.

O ideal é que o plano de possibilidades contemple o que foi planejado, em que tempo será realizado, que espaço será utilizado, que agrupamentos serão organizados e quais materiais/recursos serão necessários.


↺1. PLANEJAMENTO 2. EXECUÇÃO 3. REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA

↺1. PLANEJAMENTO 2. EXECUÇÃO 3. REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA

↺1. PLANEJAMENTO 2. EXECUÇÃO 3. REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA

1……. 2……. 3…….


[...] o planejamento é definido como um método de trabalho, no qual os educadores apresentam objetivos educacionais gerais, mas não formulam os objetivos específicos […] para cada projeto ou cada atividade de antemão. Em vez disso, formulam hipóteses sobre o que poderia ocorrer, com base em seu conhecimento das crianças e das experiências anteriores. Juntamente com essas hipóteses, formulam objetivos flexíveis e adaptados às necessidades e interesses das crianças, os quais incluem aqueles expressados por elas a qualquer momento durante o projeto, bem como aqueles que os professores inferem e trazem à baila à medida que o trabalho avança. (RINALDI, 1999, p. 113)

Conclusão

A educação holística acredita nas potencialidades das crianças. Sendo assim, na Wish, damos a elas as possibilidades de tentarem, errarem, arriscarem, de colocarem sua opinião, seu ponto de vista, validamos suas hipóteses, suas colocações, valorizamos o que trazem e tudo aquilo que são!!

Entendemos que desse modo eles serão capazes de se fazer ouvir e se respeitar, de entender e conviver com as diferenças, de pesar prós e contras e de compreender que toda escolha implica uma consequência.



Projeto do YouTube. Aprendendo proporção com escalas de mapas


Enxergamos a criança como ser pleno, produtor de cultura. Ser completo e complexo que tem o direito de ser ouvido, respeitado e tratado como alguém que possui necessidades, desejos e anseios característicos agora, no presente.



Ao esfregar o giz molhado esquecido no chão por um amigo, Maria descobriu uma coisa que a deixou muito feliz: como fazer sua própria tinta!

Maria fez muitas cores, ensinou sua técnica aos amigos e se divertiu pintando sua pele com a tinta.


"Houve um grande estudo recente sobre pensamento divergente, que é a habilidade de ver várias respostas possíveis para uma questão. Entre crianças de 3 a 5 anos, 98% foram consideradas gênios do pensamento divergente. Entre 5 e 8 anos, o número caiu para 32%. De 13 a 15 anos, 10%. Isto mostra duas coisas: um, nós todos temos essa capacidade; dois, em geral ela se deteriora. Entre outros motivos, porque as crianças passam dez anos na escola ouvindo que existe uma só resposta certa."

(Ken Robinson)


A educação holística ousa mudar as perguntas e vivenciar a incerteza e complexidade das respostas. Compreender o que uma escola como a Wish propõe e acreditar neste caminho pressupõe que as famílias se aproximem e vivenciem essa educação tão necessária para as questões que o mundo contemporâneo nos impõe. Convidamos você a vir nos conhecer e ser parte dessa transformação.



Por:

Andressa Lutiano

Mestre em Educação Transformadora pela Antioch University. Graduada em Letras pela USP e pós graduada em educação bilíngue pelo Instituto Singularidades. Sócia-fundadora da Wish School - escola reconhecida pela MEC como criativa e inovadora. Palestrante de diversos eventos sobre educação, incluindo os internacionais World Forum e Innovate, e facilitadora de grupos que buscam ser a mudança que sonham para a educação, conta sobre os processos transformadores promovidos pela Wish. Entusiasta e estudiosa de iniciativas inovadoras em educação, já rodou o mundo para conhecer as mais variadas propostas que servem de inspiração para a educação que propõe.


Beatriz Fosco Giorgi Graduada e licenciada em Educação Artística pela FAAP, pós graduada em Autoconhecimento na Formação do Educador pelo Instituto Singularidades, com experiência nas áreas das artes visuais, música, teatro, corpo-dança e comunicação. Professora de Linguagens Artísticas, coordenadora pedagógica de 5° ano a E.M. e sócia da Wish School, busca constantemente compreender as relações entre as práticas da educação inovadora, as artes e as pessoas (comunidade escolar como um todo).


Marina Gadioli Lenzi Mari

Sócia da Wish School, mestre em Educação pela University of Toronto (OISE), graduada e licenciada em Teatro pela Universidade Anhembi Morumbi, pós-graduada em Língua Portuguesa e Literatura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professora de Artes da Wish por diversos anos, integrando as diversas formas de expressão artística no trabalho por projetos com os estudantes. Buscando sempre práticas que transpareçam o interesse dos estudantes, que os empoderem a dirigir seu próprio aprendizado, e que transbordem um novo tipo de educação também para educadores.










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